sábado, 10 de maio de 2014

Maternar


Aos 29 anos recebi no meu coração e ventre o convite à Maternidade. Esse foi, sem duvida alguma, o melhor convite da Vida!

Foram muitos anos de preparo: fiz muitas limpezas espirituais, liberando meu feminino das dores das desistências e perdas antigas; limpezas emocionais, curando minha criança abandonada e ferida - a filha que queriam que eu fosse - permitindo que a criança que eu sou ressurgisse.  E limpezas familiares.... nossa! Estas seguem e seguem acontecendo....

Em Agosto de 2012, lá estava pulsando no meu ventre o coraçãozinho potente da minha filha amada!

            Sempre soube que teria uma menina. Mas, diante da luz da existência habitando meu ventre me senti MÃE, e como mãe comecei a me preparar e me abrir para o presente do divino! E esse presente poderia ser um menino! Um pouco de inquietude veio. Se fosse um menino iria recebê-lo com todo amor assim como a menina, pois nunca tive preferência. Eu somente sabia que viria uma menina por há tempos ela me acompanhar. E o Pai também sempre sentiu que teria uma filha. Nossas intuições casavam, mas também tínhamos a plenitude de receber a quem nos escolhera.

Nossos amigos todos diziam “Nossa! Que energia forte! É um menino!”. Apenas o Professor Paulo colocou a mão na minha barriga e disse: “Que linda! É uma menina!”. E então veio a confirmação de que uma linda menina se formava em meu ventre!

Quando eu estava com 3 meses de gestação fui com meu marido no Sitio do Nenel para uma vivência de Biodança e no meio da jornada, durante uma meditação, minha filha veio e me disse: “mamãe eu sou a Pietra!”. Naquele momento ainda não tínhamos a confirmação do sexo, mas já tínhamos 2 nomes caso fosse menina: Yasmim- que eu sempre quis - e Pietra - o que ela nos falou. Assim que o sexo do bebê foi confirmado, o Papai decidiu: “É a Pietra!”. Mais tarde, num sonho, ela disse: “Pietra, pois sou um cristal lapidado no número Pi!”.

Junto com a gestação eu estava passando por outro processo com minha Mãe. Quando engravidei, minha Mãe fez por uma cirurgia de retirada de um câncer de mama. Ali se iniciava um forte processo de depuração da Alma dela e uma profunda cura no feminino da família.

Os 9 lindos meses de gestação se passaram me dando a oportunidade de sentir a Pietra crescer no meu ventre. Era o milagre da vida se realizando! Ela gostava de mexer para o pai dela, e só pra ele! Nos fortalecemos como casal, e uma mulher selvagem brotava em mim.

Era chegada a nossa hora de dar a Luz! Ao meio dia a bolsa rompeu. Eu estava em casa na melhor companhia do amor e cumplicidade de meu Parceiro Divino. E ali foram 4 horas de dança, risadas, meditações, comilança - pois eu tinha muita fome! A cada contração – “Shuaaaaa!!!”. Um pouco de liquido descia pelas pernas. A água ia abrindo caminho para a Pietra chegar!

Até que decidimos ir ao hospital, pois era sexta-feria e havia bastante transito de Canoas à Porto Alegre. No caminho de ida ao hospital ainda pegamos uma blitz e eu estava com contrações de 5 em 5min!

Chegando no hospital os enfermeiros se espantaram quando eu disse que estava em trabalho de parto! Senti que não sabiam o que fazer comigo! Me trouxeram uma maca e eu disse: “Estou bem! Quero ir caminhando!”. Mas subimos de cadeira para eles ficarem mais tranquilos.

Lá na sala de parto encontrei as fadas do Parto! Nossa Doula Fabi, que foi uma presença iluminada, junto com a Obstetra Ana, com sua preciosa presença sábia.  Segui nosso ritmo: dancei com músicas que havia carinhosamente escolhido para este instante, cantei, me banhei junto com meu Parceiro amado que me acarinhou, me apoiou e pariu junto comigo.

E o momento esperado chegou! Ganhei minha filha como minhas ancestrais, de cócoras. Eu mesma peguei-a e coloquei-a no meu peito! As primeiras palavras que escutou foram “Te  amooo filha...” na voz mais linda e doce do papai e, em seguida na voz da mamãe. Uma alegria imensa surgiu em meu coração, com força e confiança na vida!

Lá fora as avós aguardavam com todo amor. Conheceram ela no colinho do Papai de pés descalços! Seu primeiro soninho foi no colo aconchegante dele.


http://themandalajourney.com/2010/04/17/4-17-10triple-goddess/
Minha Mãe foi a guardiã da placenta e esteve conosco na nossa casa, numa presença divina nos primeiros 10 dias. Estar com ela foi sublime! Uma cura descomunal para nós duas.

Naqueles primeiros meses a Mãe estava no seu melhor momento! Linda, cheia de força e garra, ela vinha nos visitar quase todos os dias. Nos curtimos muito.

Três meses se passaram e o braço operado da Mãe começou a inchar. Ela vinha em minha casa e eu fazia drenagem pra ela. As visitas haviam ganhado mais um motivo, mas simbolizavam também mais tempo juntas e muito carinho. Ali, o câncer já havia aparecido na pele, mas pensava-se que eram queimaduras da radioterapia.  O diagnostico veio muito tempo depois.

Um dia eu e Pietra fomos visitar a vovó e ela estava com muita dor, acamada. Convidei-a para passar uns tempos conosco até melhorar. Ela veio e ficou 40 dias em nossa casa.

Comecei a Maternar minha Mãe. Longas jornadas de cuidados com as feridas que cresciam rapidamente, causando dores, queimação e coceira intermináveis. Ela, com toda calma e paciência, sem queixas, buscava todas as alternativas para a cura. Minha jornada dupla de cuidados se iniciava: minha filha com 4 meses, cheia de vida, e minha Mãe, com 57 anos, numa depuração profunda!

A vida me convidou à Maternidade e essa me levou a viver a profundidade da dedicação ao outro. Morte e vida se encontraram na minha casa. O processo da Mãe foi se agravando. Cada novo dia, quando eu descia as escadas, pensava em como iria encontrá-la. Muitas vezes aparentava já ter partido. Então eu dava um beijinho em sua testa para acorda-la e me certificar de sua presença. Quarenta dias se passaram e, após o resultado de uma tomografia, o hospital pediu para que ela fosse internada com urgência, pois estava com liquido nos pulmões. Fizeram o procedimento e lá ela ficou por 8 dias. Retornou, dessa vez, para sua própria casa.

Começava, então, uma nova jornada. Quando ela voltou do hospital sentiu-se mais disposta, com um pouco de vigor. Comecei a visita-la quase todos os dias. Eu chegava por volta das 10h, fazia almoço pra nos três ( Avó- Filha - Neta), passava agradáveis tardes de muitas conversas, revelações e ensinamentos, e por volta das 17h eu e a Pietra voltávamos para casa. Os meses foram passando, vários tratamentos foram realizados, as dores aumentaram, e a mãe foi ficando cada vez mais debilitada. Nossa assistência era cada dia maior. Meu irmão e irmã iam se revezando comigo, assim como algumas irmãs da Mãe. Em dezembro ela já não podia ficar sem zelo constante.

Por todo este tempo a Pietra, amadinha, foi uma grande companheira: sempre com um sorriso lindo pra Vovó, minha pequena adorava ficar na rede se embalando com ela.

No início de Janeiro eu já estava exausta. Minha filha estava querendo engatinhar, curtir a vida, e minha mãe estava na cama exigindo cuidados permanentes. Eu já não conseguia mais atender as duas com a disponibilidade e carinho plenos: uma ou outra, em certos momentos, ficava com minha ausência! É claro que nesse momento minha filha sempre foi a escolhida em primeiro plano, pois ela dependia de minha atenção e dedicação plenas.

Eu já estava há 6 meses nessa doação dupla quando o cansaço começou a chegar: a vontade de curtir a Pietra neste momento lindo de descobertas, e eu privando seu caminho a um quarto. Entrei em conflito interno! O que vem primeiro: Filha ou Mãe? Eu já não estava mais levando essa situação com harmonia.

Decidi dar um tempo e fui visitar uma grande e sábia Amiga que mora em um sítio. Sua casa fica encima de uma cachoeira!!! Lá, me reconectei com meu coração, ajustei meus espaços internos, desfrutei das bênçãos da maternidade, comunguei com a natureza e nas águas da cachoeira perdoei minha Mãe e libertei minha filha! Uma coruja voou em meus pensamentos levando essa mensagem!

Naquele dia liguei para minha Mãe e disse: “Mãe, nós somos Mulheres Livres!”

Ela estava agora sendo cuidada pela minha irmã. Incansavelmente, assim como eu havia feito, segundo as palavras da Mãe.

Três dias depois, no primeiro de fevereiro, ela foi internada novamente. Retornei e durante toda a viagem vim me recordando de sua beleza.  Rios de lágrimas me acompanharam e cheguei para me despedir dela. Quando a encontrei na emergência, fui recebida com um lindo sorriso e  um abraço carinhoso pleno de amor. Infelizmente, já havia muita perturbação na mente dela e a dificuldade para respirar era imensa. Neste dia ela foi entubada. No dia seguinte fui visitá-la e a vi ao lado de seu corpo. Lágrimas em silêncio correram pelo meu rosto. Acarinhei seu corpo e beijei seus pés. Muitos da família foram ao hospital para vê-la.

Mais um dia de hospital se passou e, para grande surpresa de todos, ela havia se extubado sozinha! Acordou com um sorriso, dando bom dia a todos do plantão da emergência e dizendo que estava bem. Falou para o médico: “Doutor, quando tu sentes no teu coração que precisa fazer algo, tu tens que fazer!”. Ela se referia a fato de ela mesma ter arrancado os tubos. Ela nos contou que estava caminhando num caminho lindo de rochas, viu um corpo com um lençol no chão, não reconheceu e seguiu caminhando. Passou por um jardim lindo, muito florido, e acordou no hospital. Ela estava muito serena quando a vi naquele dia. 

Para minha surpresa. me deparei com uma situação muito nova! Eu estava preparada para a passagem dela, mas não imaginava que ela iria ressuscitar! Um turbilhão de emoções corria pelo meu corpo. O médico que a entubou chamou os filhos dela e explicou que o ocorrido era quase um milagre, e que não se tinha ideia do que viria: se ela se manteria ou se iria saturar novamente. Nesse momento o câncer já havia abraçado todo o tórax e muitos órgãos. O desgaste físico era imenso. Ver o corpo se deteriorar, praticamente se auto-consumindo, era irreconhecível.  Eu, a Pietra e meus dois irmãos estávamos sem palavras na frente do hospital, apenas muito surpresos com a força e a imensa vontade de viver da Mãe, que foi e quis voltar mesmo que para um corpo tão sofrido! Talvez algumas inquietudes da alma precisavam ser sanadas para que a paz chegasse em plenitude ao coração dela. Nesse mesmo momento o médico nos chamou na porta do Hospital e com muito carinho explicou a situação. Ele nos fez uma pergunta: explicou que diante do quadro dela, a orientação da equipe da oncologia era de não tomar medidas de prolongamento de vida, mas que se ocorresse algo, “o que vocês querem que seja feito?”. Nós nos vimos diante de uma decisão muito forte. Todos estavam sofrendo muito, mas a Mãe, mesmo com tudo que estava acontecendo, queria viver com toda a garra que tinha.  Então decidimos que fossem tomadas todas as medidas de prolongamento de vida para que ela tivesse o tempo que ela necessitava. Isso porque quando chega a hora da partida, independente de qualquer coisa que se faça, aquela é a hora e pronto! Somente o coração sabe quando chega esse momento. E nós, seus filhos, não poderíamos ser egoístas ao ponto de diminuir nosso desconforto se ela, que estava naquele estado depurativo profundo, queria, mesmo assim, estar aqui! E por aqui ela ficou mais um mês, totalmente acamada. Suas irmãs a acompanharam nestes momentos finais. Nos últimos meses a Mãe esteve sempre acompanhada. Eu fui visitá-la praticamente todos os dias e para fazer isso eu contei com vários amigos que me deram suporte. Alguns me levavam ao hospital e ficavam com a Pietra no estacionamento para que eu pudesse passar um tempinho com a Mãe.

Então, minha bebe já estava com 8 meses e embora já tivéssemos iniciado a alimentação dela com as comidinhas, o mama é o preferido. Cerca de 90% da alimentação dela é leite materno. Amo amamentar e sou grata pela fartura que alimenta minha filha até hoje. Nunca coloquei horário para as mamadas. Nós duas curtimos muito esse nosso momento e ela mama quando quer e a todo hora. Uma delicia!

Esse foi um período de muitas revelações. Nestes momentos as pessoas se revelaram. Amparo e descaso andaram juntos, carinho e raiva. Houve muitas revelações, vindas de todos os lados. As verdadeiras parcerias aconteceram. Alguns se dedicaram com amor e outros com dor. Houve muitos enrolos e desenrolos e, para mim, o que ficou foi a força da Verdade!

Quando a Mãe retornou da entubação, comecei a meditar no Jardim da Kuan Yin e lá a sua Individualidade apareceu. Linda, ela me falava as orientações a serem passadas à Mãe. Quando eu ia ao hospital nós falávamos sobre este espaço que havia para nos encontrarmos e a Mãe acolhia e realizava com amor cada orientação! Uma destas orientações foi a de colocar asas em seus pés e nutrir de luz essas asas, pois logo ela andaria em outros em caminhos.

Mais ou menos 15 dias antes da sua grande viagem, o Mestre Lanto enviou uma mensagem através do livro dos “7 Chohans”. Nesta mensagem, entre outras afirmações, ele fala da iluminação, da eternidade e de que a receberia em seu Templo no caminho das pedras. Aquele mesmo caminho que ela conheceu quando ficou entubada.

A passagem da Mãe aconteceu numa quarta-feira, dia do Mestre Lanto, no dia de Isis.

Muitos sinais de iluminação estiveram ao redor de sua passagem, mas para mim o mais surpreendente aconteceu ao entregar suas cinzas no mar.

Quando fui buscar a urna com os restos da cremação, por curiosidade li o atestado da cerimônia. Alguns dias depois eu sonhei com a Mãe conversando comigo, mas eu não conseguia escutar o que ela me dizia. Então ela me mostrou várias palavras no certificado da cremação e estas palavras se misturaram transformando-se em três golfinhos que giravam. Entendemos que a entrega de suas cinzas à natureza seria no mar. Então marcamos aleatoriamente um sábado na Praia de Torres, lugar que ela gostava muito! Lá, uma grande amiga dela nos recebeu num dia agradabilíssimo. Ela fez um almoço com tudo que a Mãe gostava. Serviu um almoço para mãe com um lugar para ela na mesa e uma vela amarela, assim como se faz na sua tradição Ortodoxa. Aos 30 dias de morte da pessoa querida eles realizam um almoço em homenagem a ela. E exatamente naquele sábado os 30 dias de morte de minha Mãe se completaram!

Fomos para a praia no momento do pôr-do-sol para entregar suas cinzas no Portal de Pedras da Praia da Cau. Os raios de sol iluminavam as ondas. Meu irmão fez as honras de jogar as cinzas. Aplaudimos, entregamos flores, nos emocionamos e todos começaram a retornar.  Eu e meu companheiro ficamos abraçados olhando mais um pouquinho o mar. Uma canção veio de meu coração e eu cantei pra ela! Para nossa linda surpresa os golfinhos aparecerem no mar! Golfinhos estavam lá recebendo e iluminando este instante sagrado!

 Agora tudo mudou. Sou a ponta do meu triângulo de hereditariedade. Sinto uma profunda força de Luz e Paz que flui em mim, em minha filha, no meu lar. Cada dia amplia a relação de respeito entre mim e a Pietra. Maternar é ver todos os dias ela crescer, despertar, fazer escolhas, descobrir o mundo!

Em muitos instantes reconheço nossos traços nela e ela, com sua doçura, ilumina minhas sombras, me faz ser cada dia uma mulher melhor, mais centrada no meu coração, firmando sempre as decisões no caminho do amor e da harmonia.

Sou grata ao meu Parceiro Divino por me presentear com a oportunidade de estar com minha filha todos os dias e maternar tranquila, com seu apoio e cumplicidade em todos os momentos.

Entendo que cabe a nós construir, gerar e manter nossa célula familiar sadia, amorosa em Paz!

E assim vivemos!



Ana Paula Marafigo
23-4-2013


5 comentários:

  1. Flor amada!!!! Quanto orgulho eu tenho em fazer parte da cosntrução desse teu espaço no mundo virtual!!!!
    Desejo que tenhas muito sucesso nesses novos caminhos que tu começa a trilhar na blogosfera!!!!
    E mais sucesso ainda em tua jornada como terapeuta!!!!

    Beeeeeijos de luz!!!!!

    Jaque Moraes

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  2. Que texto lindo Ana! E que grande crescimento tu viveste! Tu és abençoada por conseguir viver nessa plenitude as coisas que acontecem na vida, e tirar tantas lições. Um beijo, Bianca Cenci

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  3. Lindíssimo e emocionante, Ana! Obrigada por compartilhar <3

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  4. Texto divino e repleto de amor. Continue compartilhando conosco, amiga, gotas de sabedoria e carinho, através de tuas palavras. Beijo no coração. TATIANE LOPES

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